Senti saudades sua...
Há 4 dias
acordei bemol tudo estava sustenido sol fazia só não fazia sentido
Paulo Leminski tinha mesmo razão! Citações, confabulações, indagações, conversa de boteco, psicologia de salão de beleza e uma pitada generosa de filosofia.
de tanto não fazer nada/acabo de ser culpado de tudo/esperanças, cheguei/tarde demais como uma lágrima/de tanto fazer tudo/parecer perfeito/você pode ficar louco/ou para todos os efeitos/suspeito/de ser verbo sem sujeito/pense um pouco/beba bastante/depois me conte direito [...]
Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos.
Clarice Lispector
'Normose'
(a doença de ser normal)
Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não
é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre,
belo, sociável, e bem-sucedido. Bebe socialmente, está de bem com a
vida, não pode parecer de forma alguma que está passando por algum
problema. Quem não se "normaliza", quem não se encaixa nesses padrões,
acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós
gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações
de não enquadramento.
A pergunta a ser feita é: quem espera o quê de nós? Quem são esses
ditadores de comportamento que "exercem" tanto poder sobre nossas
vidas? Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja
assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha
"presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados.
A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação
e a ânsia de querer ser o que não se precisa ser. Você precisa de
quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar
quantos quilos até o verão chegar?
Então, como aliviar os sintomas desta doença? Um pouco de auto-estima
basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem
todas as regras bovinamente, e sim, aquelas que desenvolveram
personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu
modo. Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não
passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original. Não
adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É
fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.
Eu simpatizo cada vez mais com aqueles que lutam para remover
obstáculos mentais e emocionais e tentam viver de forma mais íntegra,
simples e sincera. Para mim são os verdadeiros normais, porque não
conseguem colocar máscaras ou simular situações. Se parecem sofrer, é
porque estão sofrendo. E se estão sorrindo, é porque a alma lhes é
iluminada. A normose está doutrinando erradamente muitos homens e
mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e
felizes.
Michel Schimidt
Psicoterapeuta