[...] Partiu-se espelho mágico em que revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim! [...]
Álvaro de Campos in: Lisbon Revisited, 1926
RALO
Há um dia
acordei bemol tudo estava sustenido sol fazia só não fazia sentido
Paulo Leminski tinha mesmo razão! Citações, confabulações, indagações, conversa de boteco, psicologia de salão de beleza e uma pitada generosa de filosofia.
de tanto não fazer nada/acabo de ser culpado de tudo/esperanças, cheguei/tarde demais como uma lágrima/de tanto fazer tudo/parecer perfeito/você pode ficar louco/ou para todos os efeitos/suspeito/de ser verbo sem sujeito/pense um pouco/beba bastante/depois me conte direito [...]
[...] Partiu-se espelho mágico em que revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim! [...]
Álvaro de Campos in: Lisbon Revisited, 1926
Tenho um amor fresco e com gosto de chuva e raios e urgências. Tenho um amor que me veio pronto, assim, água que caiu de repente, nuvem que não passa. Me escorrem desejos pelo rosto pelo corpo. Um amor susto. Um amor raio trovão fazendo barulho. Me bagunça. E chove em mim todos os dias.
Caio Fernando Abreu
Chegue bem perto de mim. Me olhe, me toque, me diga qualquer coisa. Ou não diga nada, mas chegue mais perto. Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada.[...]
Caio Fernando Abreu
[...] sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor pois se eu me comovia vendo você pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo meu Deus como você me doía de vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça então os meus braços não vão ser suficientes pra abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você sem dizer nada só olhando e pensando meu Deus como você me dói de vez em quando.
Caio Fernando Abreu
[...] entretanto me arrasto,
apêndice do coração,
vergando as espáduas gigantes.
Encho-me dum leite de versos
e, sem poder transbordar,
encho-me mais e mais.
(Maiakovski)
É parte da cura o desejo de ser curado.Só consegue quem quer... quem não quer, empaca.
Se você abre uma porta,você pode ou não entrar em uma nova sala.Você pode não entrar e ficar observando a vida.Mas se você vence a dúvida, o temor, e entra,dá um grande passo:nesta sala vive-se !Mas, também, tem um preço...São inúmeras outras portas que você descobre.Às vezes curte-se mil e uma.O grande segredo é saberquando e qual porta deve ser aberta.A vida não é rigorosa, ela propicia erros e acertos.Os erros podem ser transformados em acertosquando com eles se aprende.Não existe a segurança do acerto eterno.A vida é generosa, a cada sala que se vive,descobre-se tantas outras portas.E a vida enriquece quem se arrisca a abrir novas portas.Ela privilegia quem descobre seus segredose generosamente oferece afortunadas portas.Mas a vida também pode ser dura e severa.Se você não ultrapassar a porta,terá sempre a mesma porta pela frente.É a repetição perante a criação,é a monotonia monocromáticaperante a multiplicidade das cores,é a estagnação da vida...Para a vida, as portas não são obstáculos,mas diferentes passagens!
A necessidade cada vez mais aguda de ruído só se explica pela necessidade de sufocar alguma coisa
(K. Lorenz)