Pela grande razão dos sentimentos, a minha sombra há de ficar aqui. Sem vida. Disforme. Oculta. Mas há de ficar aqui. E tua garganta estúpida não será capaz de me espantar. Por quê? Oras, porque tu moras no meu deserto das idéias. E sou aquela que te cria. Eu te sopro a vida porque tu és aquilo que eu quero enxergar e não o que ocultas na alma. Tu não és nada além daquilo que moldei num sonho ridículo. Tu não existes senão na minha imaginação e não te espantes, mas dissolvestes na primeira tempestade: quando podias e não fizestes nada. Quando mais esperei de ti, menos tive. Quando mais precisei de ti, mais te ausentavas. E assim me reduzias... e eu permaneci inerte, à tua espera. Pela grande razão dos sentimentos. Os meus.
Moldei-te no barro, criei-te, dei-te um nome e uma face. Criei estórias fantásticas de ti, e vi aquilo que ninguém enxergava. Ordenei-te cavaleiro, conselheiro e confiei-te meus segredos mais íntimos. Escrevi versos sangrados de amor e devoção. E abri-te a minha alma.
E tu, fazes o quê? Finges que não vês. Caminhas tu, em teu destino para um fim que tu mesmo desconheces. Mal sabes o que te esperas... Mal sabia eu, que quanto mais ia ao teu encontro, mais me perdia de mim.
2 comentários:
Forte o que diz. Cheio de paradoxos. E terrível 'o morar no deserto das idéias de alguém'...
Magnífico...
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