quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

3... 2...1... Feliz Ano Novo!


Que nesta virada, os abraços apertados não sejam por mera questão de data, mas de sensibilidade e sinceridade, de amor transparente e transbordante.
Que as bençãos da meia-noite não dependam de um segundo somente, mas que venham para toda uma vida - ou duas.
Não vai haver ano novo se você não construir nada. A vida não pausa para recomeçar mais adiante, melhor e mais leve. A barra de viver continua e as obras iniciadas neste ano (no ano passado e no anterior ou há dez, vinte anos atrás) terão continuidade no próximo. Daqui a pouquinho. Daqui a algumas parcas horas.
Por isso, não quero lhe desejar 'Feliz Ano Novo'. Não quero lhe perguntar quais foram as coisas que você incluiu na sua lista de resoluções que faz todos os anos e que não cumpre muitas delas. Eu também faço isso. E hoje reli a minha e descobri que não cumpri nem quatro da forma que deveria ter cumprido. Dei prioridade a outras coisas que, talvez não me tenham trazido tantas alegrias, mas que na hora achei que fossem mesmo mais importantes do que aquelas a que tinha me predisposto. E assim vou acumulando resoluções (talvez seja hora de rasgá-las e continuar uma nova lista, né? Ou nenhuma...).
Não quero lhe desejar 'Feliz Ano Novo'. Quero, sim, é que você tenha forças para continuar o que começou e para iniciar novos projetos. Quero que você lute pelo que achar certo sem importar-se com o que os outros possam pensar. Que você tenha liberdade de escolher o que é melhor para você. Que você faça uso do livre-arbítrio que Deus lhe deu quando lhe presenteou com o dom da vida. Que você consiga alcançar os seus objetivos sem que seja preciso ferir alguém ou criar inimizades.
E quero que se lembre sempre que torço por você.
Não é um desejo para o Ano Novo. É para sempre!


Complemento com Tempo, de Carlos Drummond de Andrade:
TEMPO. . .
Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente...
...Para você,
Desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.
Para você,
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.
Para você neste novo ano,
Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
Que sua família esteja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas.
Mas nada seria suficiente...
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto,
ao rumo da sua FELICIDADE!!!

Feliz 2009!!! Para todos nós!

(Meus amigos lindos Felipe e Marcelo, obrigada pela inspiração e por estarem sempre aí quando eu preciso. E quando não preciso também!)

domingo, 28 de dezembro de 2008

Às minhas amigas!

Recebi de uma grande e maravilhosa nova amiga (nos conhecemos este ano, mas parece que somos amigas a vida toda!) um textinho incrível que traduz realmente o que sinto por todas as minhas amigas. Então lá vai:

Quando eu era pequena, acreditava no conceito de uma melhor amiga.
Agora como mulher descobri que se você permitir que seu coração se abra,
você encontrará o melhor em muitas amigas.
É preciso de uma amiga quando você está com problemas com seu homem.
É preciso de outra amiga quando você está com problemas com sua mãe.
Uma outra quando você quer fazer compras, compartilhar, curar, ferir,brincar ou apenas ser. Uma amiga dirá "vamos rezar", uma outra "vamos chorar", outra "vamos lutar" ou "vamos fugir"/”vamos viajar”.
Uma amiga atenderá às suas necessidades espirituais, uma outra à sua loucura
por sapatos, uma outra à sua paixão por filmes, outra estará com você em seus
períodos confusos, outra será a luz e uma outra será o vento sob suas asas.
Mas onde quer que ela se encaixe em sua vida, independente da ocasião, do
dia ou de quando você precisa, seja com seus tênis e cabelos presos, ou para
impedir que você faça uma loucura...todas essas são suas melhores amigas.
Elas podem ser concentradas em uma única mulher ou em várias...uma do
ginásio, uma do colegial, várias dos anos de faculdade, algumas de antigos
empregos, algumas da igreja, em alguns dias sua mãe, em alguns dias sua vizinha,
em outros suas irmãs, e em outros suas filhas.
Assim, podem ter sido 20 minutos ou 20 anos o tempo que essas mulheres passaram e fizeram a diferença em sua vida.
Obrigada a todas que fazem parte do meu círculo de mulheres maravilhosas que fizeram a diferença em minha vida.
Acrescentaria ainda que amo - e muito mesmo - todas elas. E isso é de graça. Eu as amo porque são assim partes de mim. Eu as amo porque, de uma forma ou outra elas estão sempre ali pra mim, não importa a hora, o motivo ou o humor, assim como todas elas sabem que eu também estou sempre por elas. Pra elas. Pro que der e vier. Mesmo na ausência, estou sempre presente e sei que elas também o estão. São amigas de ontem, de hoje, de sempre, de pouco tempo, mas são AMIGAS. Tão amigas que arriscaria um 'irmã' complementando o sujeito. Amigas-irmãs. Amigas que eu escolhi e que me escolheram pra acompanhar nesse caminho longo e tortuoso que se chama VIDA.
Deixo cá um abraço de urso pra cada uma delas e brindo, com toda a certeza, a existência de todas. Agradeço por estarem sempre comigo e peço a Deus que me permita compartilhar com elas todas as experiências - boas ou nem tão boas assim - até o fim de meus/nossos dias.

Lê, Drika, The N. Sisters (Tias Nema, Neiva e D. Nelza - já arranjei um apelido!!! rs), Déia, Ju, Lene, Liana, Vivi e todo o povo de Cafelândia que conheci neste ano e outros que resgatei de um passado remoto, agradeço os ouvidos e a paciência em me aturar numa fase tempestuosa do ser, por me mostrarem que apesar de tudo, as recordações são mais valiosas do que aquilo que não existiu. Guardo a lição pra vida toda! Amo vocês de paixão e o resto é pequeno diante de tudo o que vocês representam pra mim.

Si, Lu, Carlinha, Rafa, Carol, Pê - comigo, sete vezes encrenca! - da facul de jornalismo, companheiras de muita balada, palco e tremedeira no TCC, e champagne pra tudo quanto é comemoração (ainda não esqueci o mico do Almeidinha... rs), valeu cada minuto!!!

Déia (Andy) e Sigrid (acompanharam dois grandes dramas na minha vida, né? Ufa, ainda bem que passou!), Pri, Lu, Tati, Camila, Chris, Cris Ribas, Flavia, Gi, Gloria, Paula, Lari, Thayssa, Tici Maggi (sempre presente, né, guria?) - da facul de Comércio Exterior - muita gastronomia e misturada!

Juju e Clau que se empenharam na minha primeira luta contra o maledeto câncer. Sempre ali mesmo quando o meu humor não era dos melhores e quando eu queria desistir de tudo. Não esqueço jamais a lição de vida de uma anjinha de 12 anos que me visitava sempre e travava a mesma luta que a minha ("um passo de cada vez, um dia após o outro!' Pequena grande mulher que foi ter com Deus antes do tempo. Com certeza foi um anjo que o Papai do Céu me mandou na hora certa!), D. Ciça, auxiliar de serviços gerais do hospital, que sempre tinha uma boa estória pra contar quando o que eu só queria era saber de chorar e que também já está fazendo companhia lá no céu.

Katita e Denise, que acompanharam a segunda luta... com muita fé e paciência e me substituiram à altura em todos os eventos.

As tias postiças que torceram e rezaram muito por mim na última cirurgia (vocês que eu amo muito mesmo e sabem quem são!Looooonge, mas sempre dentro do coração e marcadas na alma).

Ex-sogras, ex-cunhadas e cia limitada, que continuaram a fazer parte da minha existência ainda que o curso do barco tenha alterado. Sempre, sempre queridas.

Nanda (amo tu, perua! Mesmo dividindo o namorado - lembra? - a amizade sempre ficou em primeiro lugar. Irmã de coração pro resto da vida!) e D. Lourdes, mãe e filha, primeiras amigas. Atemporal!!!!

Vivi Ferreira, que foi babá, amiga, mãe, irmã e tudo o mais que se pode se esperar de uma amiga fiel. Companhia de cinema, churrascaria, McDonald's, filme com pipoca e guaraná, brigadeiro de panela, shopping center, música sertaneja e pagodinho (eita, salada de frutas!).

Minha irmã de sangue, Rê, que nem tenho palavras pra expressar tudo o que sinto. Eternas Irmãs Garcia. Reeeeeeeeeeeeeeee! Unidas sempre!!!! Eu sempre estou aqui pra ti, não importa pra quê.

Minhas amigas virtuais, novas e velhas, amigas blogueiras que compartilham as peripécias desta que vos fala, presenças marcantes. Não as conheço fisicamente, mas tenho certeza de que temos algo que nos une além da tela e do teclado. Também estão nas minhas orações.

Assim também é a Ci e LuizA (trocadilho, né?) pra mim, amigas de orkut. Não as conheço, mas compartilho vários gostos em comum. Elas sabem perfeitamente quando estou precisando de uma palavra de força. Encontrei ali a Preta, a Andréia com sua lírica voz maravilhosa e tantas outras que poderia ficar falando durante uma semana.

E tem ainda as novas, essas que surgiram nesses últimos meses e que sem querer fizeram uma diferença enorme na minha existência.

Jana e Fer'dinanda Maria Repolhuda', deixei pra falar de vocês duas aqui, no finalzinho, porque o que eu tenho pra dizer é um tantico longo... A nossa amizade começou assim, bem aqui, no 'haja hoje...', com uma curiosidade da Jana, que veio através do Betão e seu Crystal Líquido e veio pra ficar e virei a 'Gê-mea' dela. A Fezoca (também conhecida como Dra Repolha foi resultado de uma fuçada só no Oscilando Entre a Fantasia e a Realidade. Fui o primeiro comentário. E também veio pra ficar. O encontro foi inevitável. A sincronia perfeita. E juntas criamos os jantares temáticos - ou não temáticos - e o D3 (apelido carinhoso que demos ao blog a três teclados Dommage a trois. Nossas vidas, hoje, seguem enlaçadas e somos as três mosqueteiras: um por todas e todas por uma. Sempre. Não tem hora, não tem assunto, não há mau tempo e estamos sempre ali uma para a outra. Seja pra receber sms às três da manhã da Fer, ligação tarde da noite da Jana ou as duas me atenderem às sete da manhã. Sejam as conversar 'msnênicas' até de madrugada ou mesmo um telefonema que se prolonga noite adentro. Nem que seja pra ouvir o choro uma da outra ou falar sobre leguminosas, tubérculos, saladas, conservas e temperos picantes seja qual for o expediente. Foi com elas que dividi minha epopéia. E foi nelas que me apoiei quando tudo deu errado. Foram elas que dividiram minhas alegrias e que me reergueram numa fase desgraçada que parecia não ter mais fim. Brindamos as derrocadas, as vitórias, as derrotas - nossas - e tenho certeza de que o faremos até escolhermos o mesmo asilo pra morar. Já pensaram nisso? Três velhinhas 'pra frentex', independentes, inspiradíssimas e tremendamente intensas... Coitados daqueles que nos acompanharem, né? Amoooooooooooooooooooooo vocês!

P.S. Não podia terminar o post sem citar minhas internacionais amigas: as americanas Lohan, Jill, Megan, Linda, Ellen, companheiras de estudo; Lisa, Helen e Daysi, companheiras de passarela e fotografia (e outra loucuras mais! Não esqueço nunca a estória da tequila e do elevador! Um dia ainda posto aqui...); as italianas Gio, Claudia, Sofia, Adrielle, (a gente saía escondidinhas pra se empanturrar de calorias e depois dá-lhe exercícios no dia seguinte... coisa de 'modelete' mesmo!),- Lucia e Stelle que vieram depois - companheiras de passarela e fotografia; Chis, Viviene, Hillary, Louise e Cybill (inglesas) da época em que morei fora do Brasil, mesmo longe ainda mantenho contato com algumas. Sempre no coração.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Feliz Natal!

E dezembro finalmente chegou e trouxe junto o Natal. Oba!! Nem sei se esse 'oba' foi assim tão verdadeiro, afinal de contas a cidade maravilhosamente decorada - estou em Curitiba, minha terrinha natal amada - se enche de formiguinhas consumistas atrás de presentes pra pai, mãe, tio, sobrinho, afilhada, cachorro, papagaio e afins. Uns poucos se recordam do verdadeiro motivo que nos leva a comemorar a data mais aguardada do ano, que é o nascimento de Jesus. Estão muito ocupados com as compras de última hora pra ajoelhar-se num banco de Igreja e pedir remissão dos pecados ou agradecer o ano que se esvai pelos dedos (pois é, daqui a pouco já é 2009). Putz... tudo bem. Cada qual com suas crenças e idéias.

Natal deveria mesmo ser renascimento, época de agradecer o dom de viver que a gente recebeu e que nem dá tanta bola assim, esquecer as desavenças e tratar de buscar a reconciliação. Tentar, ao menos. Isso não é lá tarefa muito fácil, não. Perdoar, então, é divino. Difícil demais pra meros mortais como nós. E eu nem sei se quero mesmo perdoar o mal que me fizeram. Talvez seja mais fácil - ou não - deixar assim. Eu não falo nada. O outro não fala nada. E a vida continua. Diferente, sangrada, mas continua. Uma hora, quem sabe, eu esqueça em um canto qualquer da memória que não corra o risco de retornar assim fácil pro consciente. Gostaria muito de dizer que deletei as coisas ruins, mas ainda não consegui chegar nessa fase - e pelo jeito vai longe.

Difícil dizer o último Natal realmente feliz que passei. Talvez tenha sido aquele, na infância, aqui em Curitiba mesmo, na casa de meus pais, onde o meu sonho era ganhar uma Barbie cheia de acessórios, mas se não ganhasse estava tudo bem também. No fundo a gente nem ligava muito pra presente, o que importava era que estava todo mundo ali, junto. Talvez porque nem sempre isso era possível, por causa das viagens deles à Antártida (pais cientistas, ausência na certa!). Ou mesmo antes de sair de casa, com meu pai cantando Jingle Bells, subindo e descendo a escada de casa, gastando o caminho da cozinha pra sala de jantar... Lá em casa o costume era outro. Fazia-se a ceia, confraternizava-se, cantava-se, orava-se muuuuuito e depois disso tudo, a gente ia dormir, sonhando com o Papai Noel... imaginando se, no dia seguinte, a gente ia encontrar tudo aquilo que tinha pedido debaixo do pinheiro canadense enorme, verdinho e natural, enfeitado cuidadosamente pelo meu pai. A véspera, pra nós, era motivo de confraternização, de reflexão, de oração e agradecimento. E era no dia seguinte, no Natal mesmo, dia 25, de manhã bem cedinho, que abríamos os presentes. E depois, tinha a missa da manhã e o almoço no salão paroquial. Às seis da tarde, tinha o café com as freiras carmelitas, lá em casa também, que me faz muita falta. Eram divertidíssimas! E a teologia toda que a gente discutia durante o tal café era uma troca riquíssima de conhecimentos. E era uma delícia.

Tenho saudades dos Natais na casa do Vô Guilherme e da Vó Helena, lá em Jaraguá do Sul ou lá em Armação, casa cheia, muito vinho, muita música, uma confusão só, mas muita alegria também. E ainda tinha a hora da música italiana cantada pelo vô, ele me ensinando a dançar valsa e minha vó enchendo a mesa de coisas maravilhosas! A louça especial de Natal, a toalha nova, roupas alinhadas... que saudades daquela bagunça toda!

Hoje, o antes é mais gostoso que o durante. A preparação é uma festa. Mas o dia em si é melancólico. Sei que não deveria ser assim. É um tremendo erro, mas aquelas pessoas que eu gostaria que estivessem comigo ontem e hoje, não estiveram por motivos que nem vem ao caso no momento. Meus pais, infelizmente não puderam comparecer porque não conseguiram sair de Armação em tempo, minha irmã, agora tem mais uma grande família agregada. E eu me agreguei a outra grande família de tradições fortes, mas o 24 é mais importante que o 25. E nesses onze anos de convivência ainda não consegui sentir aquilo que sentia ao passar o Natal na casa de meus pais. Eles nunca foram de grandes festas, bailes e outros fru-frus, mas tinha alguma coisa tremendamente inocente, sem confusões, sem brigas, sem atritos, muita emoção e sinceridade que eu não consegui encontrar em lugar nenhum.

É difícil focar no real motivo da data mesmo. Mas não por motivos comerciais. Falo por mim, não pela maioria. É difícil porque me dá mesmo uma baita nostalgia e uma sensação de que falta alguma coisa gigantesca. E eu ainda não consegui descobrir o que é. Bom, talvez até tenha descoberto, mas faltou coragem pra admitir. Ou assumir. Ou seja lá o termo que se use pra essas coisas. Só sei que é um vazio enorme que não consigo preencher, por maior que seja o malabarismo que faça.

Será que um dia passa? Não sei. Enquanto isso, só me resta desejar um Feliz Natal a todos e parabéns ao maior aniversariante de todos os tempos: Jesus Cristo.

La festa più bella dell'anno segni nei vostri cuori pace amore e serenità.

O que me faz amar um homem

por Ailin Aleixo

Eu realmente acreditava que o que me fazia amar um homem era a inteligência. Elucubrações e digressões me impressionavam. Conhecimentos literários, artísticos, práticos seduziam a eterna adolescente em mim. Mas descobri que não era isso que me fazia amar: de nada adianta um cérebro invejável, citações brilhantes, se ele não rir das próprias besteiras, se não souber aproveitar as delícias do ócio de um sábado quente. Então percebi: bom humor era essencial.

É delicioso estar com alguém que vive sem arrastar correntes e faz dos pequenos horrores cotidianos inevitáveis piadas. Só que nem tudo é uma piada e, em certas horas, quero alguém que me conforte a alma. Nesses momentos, nada pior do que ser levada na brincadeira - existe uma imensa diferença entre a alegria de viver e a recusa a sair da infância. Então fui invadida pela certeza de que o que me fazia amar alguém era, antes de tudo, a sensibilidade.

Telefonemas de bom-dia, olhares que vêem, pequenos gestos incontidos - tudo o que eu podia querer. Ou quase. Só sobrevive ao meu lado alguém que grite comigo quando eu passar dos limites do bom senso, demonstre desagrado quando eu exigir demais e oferecer de menos. Preciso ser cuidada, mas preciso da certeza de estar com um homem de verdade e não com um moleque preso no complexo de Peter Pan. Quero ser domada, tomada.

Nem inteligência, bom humor ou sensibilidade me faziam amar alguém. Talvez fosse virilidade.

Mal abrir a porta da sala e ser consumida por beijos. Ter a roupa arrancada no caminho da cozinha. Ser desejada com urgência é um dos maiores elogios que uma mulher pode receber, mas só ser desejada de nada adianta: quando acaba o suadouro, o que resta? Se o que interessa é a movimentação, tudo bem. Mas se existe a possibilidade de ser esmagada pelo vazio de sentido após o orgasmo, de nada vale. Pelo menos se não vier acompanhado de cuidado, carinho. Pensei, então, que ele seria a pedra fundamental pra despertar meu amor. Mas carinho é um sentimento abrangente demais: nos invade desde a visão de um cachorro abandonado até a palavra confortadora de um desconhecido.

Um dia, cansei de tentar adivinhar. E, nesse dia, após tantas enumerações paralisantes e neuróticas, descobri. Hoje sei exatamente o que me faz amar um homem: o amor existir.

Quando é necessário justificá-lo, procurá-lo, racionalizá-lo, é sinal de que ele não está ali.

Simples assim.

Texto maravilhosamente recordado pela Jackie. Definitivamente é daqueles que eu poderia ter muito bem escrito... Santo pensamento universal!!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Farpa Cortante

O Rappa

Não falta a marca da crise
o pé incomoda com o furo
eu quase encosto no muro
no lado de cá, no lado de cá da vitória
no escuro, o teto é a laje
acende e apaga, apaga a fogueira
no charco molhado, de papelão
coberto de fogo, da brasa na fogueira
na brasa da fogueira
no escuro, o teto é a laje
acende e apaga a fogueira
no charco molhado, de papelão
coberto de fogo, apaga a fogueira
convivência é áspera e amarga
o encosto, além do prudente
no úmido e frágil caminho
eu não tenho meu pai, eu sou sozinho
a vida emprestada no crime
na sombra, longe do firmamento
sem choro, no estrilo, sem choro não há tempo
a lata com farpa cortante

"Você andar com um furo no sapato, conseguir driblar umas situações... Quando você abre a lata, você não vai achando que vai cortar o dedo, mas se você displicente, se não for um cara atento... a vida é tirada nos detalhes...a bala que passa rasante que passou pela janela e você falou 'Nossa! Vou dormir no chão porque...'"
Falcão


Pois é, a vida é feita de detalhes. E são esses malditos - ou benditos - detalhes que fazem mesmo a diferença! Um sinal que você deixou de ver num segundo de um dia qualquer, arruina os outros 364 dias do ano - ou o resto dos seus dias, quem sabe? E quer mesmo saber qual é o maior problema? É que somos cegos na maior parte do tempo. Somos cegos porque não temos tempo pra perder com detalhes ou não queremos enxergar. Às vezes dói menos se fecharmos os olhos e fingirmos que está tudo bem... Ledo engano. A dor não diminui não, extraordinariamente, aumenta. A dor fica ali, latente, esperando o pior momento pra vir à tona e destruir o que restou da carcaça do ser. Infelizmente, não há outra verdade senão a de que somos sempre só nós e Deus. Estamos sempre sozinhos, porque ninguém pode caminhar por ninguém. O nosso caminho é a gente que faz. O destino pode até estar lá, mas somos nós que o fazemos a cada amanhecer. E esse destino a gente muda a cada segundo, a cada atitude, a cada pulsar. E nos resta arcar com as consequências do caminho que a gente traça nessa estapafúrdica confusão que é a vida. Cheia de sinônimos e antônimos.

A gente pode ser qualquer coisa. Desde que acredite nisso!

Nem ia comentar nada, mas e deu pra segurar os dedinhos aqui fora do teclado? Caraca! O Rappa faz parte da trilha sonora da minha vida sim. E muito. Esse mix de criatividade que cada um deposita na criação de suas músicas é impressionante! A sincronia é perfeita. São pequenos (gigantes) emaranhados de letras sangrados da conjunção pulsante. O sangue que corre em suas veias é bem vermelho. Vermelho vivo. Intenso. Perfeito. E isso só confirma aquilo que vemos no palco: mostra que há um coração pulsante que sangra muuuuuito a cada batida de som.
Quem faz o que gosta, faz direito, faz perfeito. Quem faz o que gosta, tem respeito. E se dá respeito. Quem sabe o que faz, vai longe. Atravessa barreiras, amplia os horizontes e não se limita.
Parabéns. Vocês vão e eu também viajo junto. Quem disse que não existe o tal pensamento universal???

Fui!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Pequeno Conto Chinês

Conta-se que por volta do ano 250 A.C, na China antiga, um príncipe da região norte do país estava às vésperas de ser coroado imperador mas, de acordo com a lei, deveria se casar. Sabendo disso, ele resolveu fazer uma "disputa" entre as moças da corte ou quem quer que se achasse digna de sua proposta.

No dia seguinte, o príncipe anunciou que receberia, numa celebração especial, todas as pretendentes e lançaria um desafio. Uma velha senhora, serva do palácio há muitos anos, ouvindo os comentários sobre os preparativos, sentiu uma leve tristeza, pois sabia que sua jovem filha nutria um sentimento de profundo amor pelo príncipe.

Ao chegar em casa e relatar o fato à jovem, espantou-se ao saber que ela pretendia ir à celebração, e indagou incrédula:

- Minha filha, o que você fará lá? Estarão presentes todas as mais belas e ricas moças da corte. Tire esta idéia insensata da cabeça; eu sei que você deve estar sofrendo, mas não torne o sofrimento uma loucura.

E a filha respondeu:

- Não, querida mãe, não estou sofrendo e muito menos louca, eu sei que jamais poderei ser a escolhida, mas é minha oportunidade de ficar pelo menos alguns momentos perto do príncipe, isto já me torna feliz.

À noite, a jovem chegou ao palácio. Lá estavam, de fato, todas as mais belas moças, com as mais belas roupas, com as mais belas jóias e com as mais determinadas intenções. Então, inicialmente, o príncipe anunciou o desafio:

- Darei a cada uma de vocês, uma semente. Aquela que, dentro de seis meses, me trouxer a mais bela flor, será escolhida minha esposa e futura imperatriz da China.

A proposta do príncipe não fugiu às profundas tradições daquele povo, que valorizava muito a especialidade de "cultivar" algo, sejam costumes, amizades, relacionamentos, etc...

O tempo passou e a doce jovem, como não tinha muita habilidade nas artes da jardinagem, cuidava com muita paciência e ternura a sua semente, pois sabia que se a beleza da flor surgisse na mesma extensão de seu amor, ela não precisava se preocupar com o resultado.

Passaram-se três meses e nada surgiu. A jovem tudo tentara, usara de todos os métodos que conhecia, mas nada havia nascido. Dia após dia ela percebia cada vez mais longe o seu sonho, mas cada vez mais profundo o seu amor. Por fim, os seis meses haviam passado e nada havia brotado. Consciente do seu esforço e dedicação, a moça comunicou à mãe que, independentemente das circunstâncias, retornaria ao palácio, na data e hora combinadas, pois não pretendia nada além de mais alguns momentos na companhia do príncipe.

Na hora marcada estava lá, com seu vaso vazio, bem como todas as outras pretendentes, cada uma com uma flor mais bela do que a outra, das mais variadas formas e cores. Ela estava admirada, nunca havia presenciado tão bela cena.

Finalmente chega o momento esperado e o príncipe observa cada uma das pretendentes com muito cuidado e atenção. Após passar por todas, uma a uma, ele anuncia o resultado e indica a bela jovem como sua futura esposa. As pessoas presentes tiveram as mais inesperadas reações. Ninguém compreendeu porque ele havia escolhido justamente aquela que nada havia cultivado. Então, calmamente o príncipe esclareceu:

- Esta foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar uma imperatriz. A flor da honestidade, pois todas as sementes que entreguei eram estéreis.

Moral: Uma tentativa frustrada pode ser o início de uma caminhada de sucesso e alegria.
Minha versão: Cedo ou tarde, as máscaras caem e a verdade vem à tona. Falta de caráter não tem remédio.


P.S. Desconheço o autor. Mas meu avô me contava essa estória sempre que tinha uma oportunidade.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

"Sou um só, mas ainda assim sou um.

Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. E, por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso."
Edward Everett Hale (1823-1909), clérigo e escritor norte-americano.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

...estou procurando, estou procurando.


Estou tentando me entender.
Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi.
Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda.
Clarice Lispector