quinta-feira, 25 de março de 2010

Se

se
nem
for
terra
se
trans
for
mar
(Paulo Leminski)

quarta-feira, 17 de março de 2010

Do tamanho da minha intensidade

Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos.
Clarice Lispector

Sou um ser notívago e diurno. Durmo pouco e penso demais.

... e gerúndio, definitivamente, não é o meu tempo verbal predileto.

terça-feira, 16 de março de 2010

Ah, memória, inimiga mortal do meu repouso!

Miguel de Cervantes

Va bene

Allora io dico va bene, e me ne torno sotto al mio piumino. Ho detto va bene tutta la vita. E' il mio destino dire va bene. Uno che si arrende non può che continuare a dirlo, sapendo però perchè lo dice.
Va bene, va bene

Não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais auto-destrutiva do que insistir sem fé nenhuma?

Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez, que me leve para longe da minha boca este gosto podre de fracasso.
Caio Fernando Abreu in: Os sobreviventes

Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada. (...) Vai doer tanto, menino. Ai como eu queria tanto agora ter uma alma portuguesa para te aconchegar ao meu seio e te poupar essas futuras dores dilaceradas. Como queria tanto saber poder te avisar: vai pelo caminho da esquerda, boy, que pelo da direita tem lobo mau e solidão medonha.
Caio Fernando Abreu in: Os dragões não conhecem o paraíso

Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser,
pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não
existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não
foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a
ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho
vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só
com ela, como um cão com seu osso.

Caio Fernando Abreu in: Lixo e purpurina


Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas as coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? dolorido-dolorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender melhor.


Você sabe que de alguma maneira a coisa esteve ali, bem próxima. Que você podia tê-la tocado. Você poderia tê-la apanhado. No ar, que nem uma fruta. Aí volta o soco. E sem entender, você então pára e pergunta alguma coisa assim: mas de quem foi o erro?(...) Você vai perguntar: mas houve o erro? Bem, não sei se a palavra exata é essa, erro. Mas estava ali, tão completamente ali, você me entende? No segundo seguinte, você ia tocá-la, você ia tê-la. Era tão. Tão imediata. Tão agora. Tão já. E não era. Meu Deus, não era. Foi você que errou? Foi você que não soube fazer o movimento correto? O movimento perfeito, tinha que ser um movimento perfeito. Talvez tenha mostrado demasiada ansiedade, eu penso. E a coisa se assustou então. Como se fosse uma coisa madura, à espera de ser colhida. É assim que eu vejo ela, às vezes. Como uma coisa parada, à espera de ser colhida por alguém que é exatamente você.

Vilarejo

Marisa Monte

Há um vilarejo ali
Onde Areja um vento bom
Na varanda, quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão

Pra acalmar o coração Lá o mundo tem razão
Terra de heróis, lares de mãe
Paraiso se mudou para lá
Por cima das casas, cal
Frutas em qualquer quintal
Peitos fartos, filhos fortes
Sonho semeando o mundo real
Toda gente cabe lá
Palestina, Shangri-lá
Vem andar e voa
Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar

Em todas as mesas, pão
Flores enfeitando
Os caminhos, os vestidos, os destinos
E essa canção
Tem um verdadeiro amor
Para quando você for

Trechos de Nicholas Sparks que eu amo (poderia ter escrito isso)

Antes de nos termos encontrado, atravessava a vida sem sentido, sem razão. Sei que de alguma maneira, todos os passos que dei desde o momento em que comecei a andar eram passos dirigidos ao teu encontro. Estávamos destinados a encontrarmo-nos. Mas agora, sozinho na minha casa, comecei a perceber que o destino pode magoar uma pessoa tanto quanto a pode abençoar, e dou por mim a perguntar-me porque razão - de todas as pessoas do mundo inteiro que alguma vez poderia ter amado - tinha de me apaixonar por alguém que foi levada para longe.

...o melhor amor é aquele que acorda a alma
e nos faz querer mais,
que coloca fogo em nossos corações
e traz paz as nossas vidas,
foi isso que você fez comigo
e era isso que eu queria ter feito com você pra sempre...

A razão por que a despedida nos dói tanto é que nossas almas estão ligadas. Talvez sempre tenham sido e sempre serão. Talvez nós tenhamos vivido mil vidas antes desta e em cada uma delas nós nos encontramos. E talvez a cada vez tenhamos sido forçados a nos separar pelos mesmos motivos. Isso significa que este adeus é ao mesmo tempo um adeus pelos últimos dez mil anos e um prelúdio do que virá.

Para todos os navios do mar e todos os portos de escala, para a minha família e todos os amigos e estranhos, essa é uma mensagem e uma prece, a mensagem é que minhas viagens me ensinaram uma verdade, eu já tinha aquilo que todos procuram e que poucos encontram, a única pessoa que nasci para amar eternamente, uma pessoa de Outer Banks e do mistério do Atlântico Azul, uma pessoa rica de pequenos tesouros, que venceu e aprendeu sozinha, um porto onde me sinto sempre em casa e nenhum vento ou problema, ou mesmo a morte pode derrubar esta casa, a prece é para que todos possam conhecer esse amor e ser curado por ele, se a minha prece for ouvida será apagada toda a culpa e arrependimento e todo ódio terá fim, Por Favor, Deus, Amém.

O homem mais sortudo do mundo é aquele que encontra o amor verdadeiro

Assisti pela sei lá eu quantas vezes este filme. Posto aqui dois vídeos com cenas selecionadas. Algumas machucam mesmo a alma.
Não me prolongo. Só deixo cá a concordância com uma das falas de Drácula, no original: Do you believe in destiny? That even the powers of time can be altered for a single purpose? That the luckiest man who walks upon this earth is the one who finds... True love?

parte 1

http://br.youtube.com/watch?v=Jb_rOs9Jmmg

parte 2

http://br.youtube.com/watch?v=jkyKvg6Khmw

Sonhar um sonho é perder outro

Sonhar um sonho é perder outro.
Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)

Dizem que são os sonhos que nos movem, que são eles que nos fazem seguir adiante nesta árdua caminhada chamada vida. E que são eles que nos impulsionam à frente sempre. Que são eles que trazem o verdadeiro significado para tudo o que acontece à nossa volta enquanto ainda não os alcançamos. Mas sonhos são sempre sonhos... Até você chegar lá. E muitos deles são mesmo impossíveis, mas a gente finge que nem vê. Estão ali, brilhantes, expostos, vivos, pintados com as cores mais belas e desenhados caprichosamente por nossas mãos imaginárias. Eles simplesmente estão ali...

Só que sempre há um maldito (ou bendito) sonho que é feito aquele pote de ouro no final do arco-íris: você sabe que não existe, mas ainda assim vai em busca porque tem fé, esperança ou seja lá o quê. Porque talvez aquele arco-íris seja especial. Porque você sempre esperou por ele depois que a chuva fina vinha de encontro ao sol ou vice-versa. Mas arco-íris vêm e vão na mesma rapidez. E o tempo - carrasco - não tem piedade. Quando você vê já passou e você nem chegou perto - e se chegou, ele se esvaiu entre os seus dedos feito névoa e desapareceu sem deixar rastros, como se nunca estivesse realmente lá. E aqueles outros sonhos que estavam atrelados ao sonho maior vão desabando feito dominós empilhados em fila única e então, de repente, você acorda oco, vazio e com uma dor chata no peito que não vai embora nunca porque a esperança já fez as malas e está ali, prostrada na porta de entrada da alma, pronta para ir-se embora de vez. E é aí que você suplica para que ela não se vá e lhe faça companhia porque você não quer se desprender daquele maldito (ou bendito) sonho, ainda que ele seja só uma parca lembrança do que podia ter sido, mas não foi, porque ainda assim é melhor do que o oco. Então você fraqueja e se humilha e começa a barganhar por isso e não é bom. Nada bom. Nunca o é. E pensa: onde foi que eu errei? Será que me perdi no meio do caminho?

Há sonhos que nunca vão deixar de ser sonhos porque o lugar deles talvez seja ali mesmo, no mundo dos sonhos. Tentar trazê-los à tona da realidade pode ser um erro. Mas como definir os sonhos? Como decifrá-los? Não sei. Talvez ninguém saiba...

Saber desistir é uma arte que ainda não aprendi com perfeição. Mas saber desistir também pode ser uma benção. Na minha concepção, estou à beira do abismo e o que me impedia de pular já não me segura mais. Talvez seja essa a lição que eu tanto procurava, o porquê que eu sempre busquei. Não sei. Você pode me dizer? Pulo, crio asas e vou em busca da sobrevivência? Renasço outra? Mando-me à merda? E vem meu daemon a alfinetar-me:

- Nem um, nem outro. Garota, hora de pôr as asinhas pra fora e tratar de arranjar um novo sonho, mas seja menos desta vez, bem menos, porque você pensa grande demais 'pro' meu gostinho.

Ligeiro fecho a porta da memória ou ele - meu daemon - entra e arranca as parcas lembranças de uma vez só e eu ainda não me sinto bem em fazê-lo. Deixa o arco-íris ficar só mais um pouquinho, só mais um pouquinho...


Já dizia meu velho professor de filosofia: sonhos não são metas. Metas são alcançáveis. Sonhos não. Temos metas e sonhos. E temos que ter noção de que os sonhos dependem de muito além do que aquilo que podemos, por isso os chamamos de sonhos. As metas, essas estão nas nossas mãos.

Só mais um pouquinho, então... ô, coisa mais triste!



(...)
Darkness on the edge
Shadows where I stand
I search for the time
On a watch with no hands
I want to see you clearly
Come closer than this
But all I remember
Are the dreams in the mist

These dreams go on when I close my eyes
Every second of the night I live another life
These dreams that sleep when it's cold outside
Every moment I'm awake the further I'm away
(...)
There's something out there
I can't resist
I need to hide away from the pain
There's something out there
I can't resist

The sweetest song is silence
That I've ever heard
Funny how your feet
In dreams never touch the earth
In a wood full of princes
Freedom is a kiss
But the prince hides his face
From dreams in the mist

(...)
(These Dreams, Heart, 1985)

(...) Há tanta coisa mais interessante

Que aquele lugar lógico e plebeu,
Mas amo aquilo, mesmo aqui... Sei eu
Por que amo? Não importa nada. Adiante...

Isso de sensações só vale a pena
Se a gente se não põe a olhar pra elas.
Nenhuma delas em mim é serena...

De resto, nada em mim é certo e está
De acordo comigo próprio. As horas belas
São as dos outros, ou as que não há.
(Soneto II de Alberto Caeiro, escrito cinco meses antes de Opiário. Londres, outubro, 1913)

terça-feira, 9 de março de 2010

A Intuição é mais forte que a Razão

Devemos sempre dominar a nossa impressão perante o que é presente e intuitivo. Tal impressão, comparada ao mero pensamento e ao mero conhecimento, é incomparavelmente mais forte; não devido à sua matéria e ao seu conteúdo, amiúde bastante limitados, mas à sua forma, ou seja, à sua clareza e ao seu imediatismo, que penetram na mente e perturbam a sua tranquilidade ou atrapalham os seus propósitos. Pois o que é presente e intuitivo, enquanto facilmente apreensível pelo olhar, faz efeito sempre de um só golpe e com todo o seu vigor.

Ao contrário, pensamentos e razões requerem tempo e tranquilidade para serem meditados parte por parte, logo, não se pode tê-los a todo o momento e integralmente diante de nós. Em virtude disso, deve-se notar que a visão de uma coisa agradável, à qual renunciamos pela ponderação, ainda nos atrai. Do mesmo modo, somos feridos por um juízo cuja inteira incompetência conhecemos; somos irritados por uma ofensa de caráter reconhecidamente desprezível; e, do mesmo modo, dez razões contra a existência de um perigo caem por terra perante a falsa aparência da sua presença real, e assim por diante.

Em tudo se faz valer a irracionalidade originária do nosso ser.
Arthur Schopenhauer