terça-feira, 16 de março de 2010

Sonhar um sonho é perder outro

Sonhar um sonho é perder outro.
Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)

Dizem que são os sonhos que nos movem, que são eles que nos fazem seguir adiante nesta árdua caminhada chamada vida. E que são eles que nos impulsionam à frente sempre. Que são eles que trazem o verdadeiro significado para tudo o que acontece à nossa volta enquanto ainda não os alcançamos. Mas sonhos são sempre sonhos... Até você chegar lá. E muitos deles são mesmo impossíveis, mas a gente finge que nem vê. Estão ali, brilhantes, expostos, vivos, pintados com as cores mais belas e desenhados caprichosamente por nossas mãos imaginárias. Eles simplesmente estão ali...

Só que sempre há um maldito (ou bendito) sonho que é feito aquele pote de ouro no final do arco-íris: você sabe que não existe, mas ainda assim vai em busca porque tem fé, esperança ou seja lá o quê. Porque talvez aquele arco-íris seja especial. Porque você sempre esperou por ele depois que a chuva fina vinha de encontro ao sol ou vice-versa. Mas arco-íris vêm e vão na mesma rapidez. E o tempo - carrasco - não tem piedade. Quando você vê já passou e você nem chegou perto - e se chegou, ele se esvaiu entre os seus dedos feito névoa e desapareceu sem deixar rastros, como se nunca estivesse realmente lá. E aqueles outros sonhos que estavam atrelados ao sonho maior vão desabando feito dominós empilhados em fila única e então, de repente, você acorda oco, vazio e com uma dor chata no peito que não vai embora nunca porque a esperança já fez as malas e está ali, prostrada na porta de entrada da alma, pronta para ir-se embora de vez. E é aí que você suplica para que ela não se vá e lhe faça companhia porque você não quer se desprender daquele maldito (ou bendito) sonho, ainda que ele seja só uma parca lembrança do que podia ter sido, mas não foi, porque ainda assim é melhor do que o oco. Então você fraqueja e se humilha e começa a barganhar por isso e não é bom. Nada bom. Nunca o é. E pensa: onde foi que eu errei? Será que me perdi no meio do caminho?

Há sonhos que nunca vão deixar de ser sonhos porque o lugar deles talvez seja ali mesmo, no mundo dos sonhos. Tentar trazê-los à tona da realidade pode ser um erro. Mas como definir os sonhos? Como decifrá-los? Não sei. Talvez ninguém saiba...

Saber desistir é uma arte que ainda não aprendi com perfeição. Mas saber desistir também pode ser uma benção. Na minha concepção, estou à beira do abismo e o que me impedia de pular já não me segura mais. Talvez seja essa a lição que eu tanto procurava, o porquê que eu sempre busquei. Não sei. Você pode me dizer? Pulo, crio asas e vou em busca da sobrevivência? Renasço outra? Mando-me à merda? E vem meu daemon a alfinetar-me:

- Nem um, nem outro. Garota, hora de pôr as asinhas pra fora e tratar de arranjar um novo sonho, mas seja menos desta vez, bem menos, porque você pensa grande demais 'pro' meu gostinho.

Ligeiro fecho a porta da memória ou ele - meu daemon - entra e arranca as parcas lembranças de uma vez só e eu ainda não me sinto bem em fazê-lo. Deixa o arco-íris ficar só mais um pouquinho, só mais um pouquinho...


Já dizia meu velho professor de filosofia: sonhos não são metas. Metas são alcançáveis. Sonhos não. Temos metas e sonhos. E temos que ter noção de que os sonhos dependem de muito além do que aquilo que podemos, por isso os chamamos de sonhos. As metas, essas estão nas nossas mãos.

Só mais um pouquinho, então... ô, coisa mais triste!



(...)
Darkness on the edge
Shadows where I stand
I search for the time
On a watch with no hands
I want to see you clearly
Come closer than this
But all I remember
Are the dreams in the mist

These dreams go on when I close my eyes
Every second of the night I live another life
These dreams that sleep when it's cold outside
Every moment I'm awake the further I'm away
(...)
There's something out there
I can't resist
I need to hide away from the pain
There's something out there
I can't resist

The sweetest song is silence
That I've ever heard
Funny how your feet
In dreams never touch the earth
In a wood full of princes
Freedom is a kiss
But the prince hides his face
From dreams in the mist

(...)
(These Dreams, Heart, 1985)

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