segunda-feira, 21 de junho de 2010

Boatos, intrigas, calúnia, mentira, inveja, traição e maldade

Para o bom entendedor meia palavra basta. Já para aquele que não quer entender, deixo cá o meu silêncio e a lástima pela falta de interesse em verdades reais e concretas.  Se lido bem com as palavras, não lhe peço desculpas. Devo a um fantástico professor chamado Ir Balestro... Reclame com ele. Sei que não devo nada, absolutamente nada a ninguém, e meu caráter, pois, continua intacto. As minhas palavras jamais serão um amontoado de discursos vazios. Eu não minto. Eu não omito. Eu sou real, sincera e verdadeira. E disso jamais poderão me acusar. Que fiquem, pois, os 'achismos' e a crença em terceiros... que nem sequer me conhecem a fundo, afinal, "As palavras são como os patifes desde o momento em que as promessas os desonraram. Elas tornaram-se de tal maneira impostoras que me repugna servir-me delas para provar que tenho razão."

Escrito há um tempo, já postado, mas que veio a calhar no momento... Achei que valia a pena complementar o post com mais um tantinho da grandiosa obra de Shakespeare e o faço agora, antes de postar o artigo que já pertencia a esta casa aqui. Sem mais delongas, aí vai.

Otelo é uma das mais conhecidas tragédias de William Shakespeare cujo cerne é o ciúme, a insensatez e a perfídia. Um dos maiores e melhores exemplos de como a palavra pode se tornar manipuladora e desencadear uma série de consequências irremediáveis. Como diria Sardas, 'influência da palavra como criadora de fatos (...) usada para fomentar intrigas, para intrigar corações, para mudar a vida das pessoas, para mudar o rumo das coisas, para provocar rupturas, para criar adesões."

Iago, o invejoso alferes de Otelo, primeiro despertou a ira de Brabâncio, contando que sua filha, a boa e doce Desdêmona, fugira com o Mouro:

Irra, senhor! Irra! O senhor está roubado! Vista-se, por decência!, despedaçaram-lhe o coração, perdeu metade da sua alma; agora mesmo, neste instante, um velho carneiro negro está cobrindo a sua ovelha branca. Levante-se, erga-se! Acorde com o toque de rebate os cidadãos que ressonam descuidados, quando não o diabo fá-lo à avô. Erga-se: digo-lhe eu.
E quando Brabâncio, aturdido, pergunta-lhe que é, responde o intrigueiro:

Sou aquele que lhe vem anunciar que sua filha e o mouro estão agora perfazendo o animal de duas costas.
Não satisfeito, e ambicionado o posto do tenente Cássio, Iago, ainda com a força da palavra, instiga Rodrigo, que é apaixonado por Desdêmona, fazendo-o crer que a doce dama por aquele se apaixonara:

Põe o teu dedo asim e deixa que a tua alma seja instruída. Repara com que violência ela primeiro amou o Mouro, somente pela sua jactância e fantasiosas mentiras. Ama-lo-á ela ainda pelo seu palavreado? Não deixes que o pense o teu discreto coração. Os seus olhos precisam de alimento; e que deleite poderá ela ter em olhar para o diabo? - Quando o sangue está entorpecido pela ação dos deleites, deveria haver - para outra vez o inflamar e saciar -, um novo apetite - beleza que ajudasse, harmonia de idade, maneiras e encantos; tudo isto falta ao Mouro. À mingua destes requisitos essenciais, a sua delicada ternura se achará iludida, começará a sentir náuseas, a enjoar-se e a aborrecer o Mouro. A própria natureza a instruirá no assunto e a compelirá a uma segunda escolha. Agora, posto isto (e é uma suposição a mais fecunda e natural), quem está tão iminente nos degraus desta fortuna como Cássio? - um biltre extremamente volúvel -, com tanta capacidade quanta basta para se envolver nas formas polidas e decentes, com que melhor possa encobrir o seu obsceno e libertino afeto? Ninguém, com certeza ninguém, um sutil e insinuante patife, um farejador de ocasiões, que tem olhos capazes de publicar e simular quando mesmo tais fortunas nunca se deram; um endiabrado velhaco! Além disso, o patife é bonito, novo e tem todos os requisitos que a doidice e a imaginação inexperiente procuram. Um biltre completo, pestilento; e a mulher já está eivada.
E, numa clara demonstração de suas intenções , Iago planeja derramar peçonha no ouvido do Mouro, levando-o, envolvido com as palavras do alferes, a matar a bela Desdêmona.

Divindade do inferno!, quando os diabos sugerem os mais negros pecados, tentam-nos primeiro com aparências celestiais, como eu faço agora; porque enquanto este honesto imbecil pede a Desdêmona que repare a sua fortuna, e ela intercede por ele junto do Mouro, eu derramarei esta peçonha no seu ouvido: - Que ela o protege por motivo da luxúria do seu corpo; - e quanto mais ela tratar de fazer bem, mais destruirá o próprio crédito no conceito do Mouro. Assim transformarei a sua virtude em pez; e a sua própria bondade farei a rede que os colherá a todos.




Segue o post antigo...


A Calúnia de Apeles - Sandro Botticelli, 1494-5

Sabe o que eu mais gosto em Shakespeare? A atualidade dos seus temas. Por incrível que pareça a humanidade é tendenciosa e peca sempre nos mesmos erros.

Infelizmente, não há uma só pessoa na terra que não tenha experimentado o amargor de estar enleada numa teia de intrigas, manipuladores e afins. Triste, mas real.

Neste texto dramático de William Shakespeare, deparamo-nos com uma tragédia na qual o herói, Otelo, é o general reconhecido pelo sucesso obtido nos campos e mares de batalha, de onde sempre traz a vitória aos venezianos. Ao assumir a posição de chefe de Estado em Chipre, nomeia Cássio como seu segundo homem, despertando a inveja de Iago, que irá conduzir a ação rumo ao caos, característica própria da tragédia shakespeareana. A trama desenvolve-se em torno desse sentimento de inveja e do ciúme que Iago instila em Otelo, fazendo-o acreditar que sua esposa Desdêmona o trai com o tenente Cássio. O conflito entre o sentimento de amor que o general nutre pela mulher, e a desconfiança incitada por Iago, termina conduzindo à queda do herói, que, debilitado psicologicamente, mata a amada, sufocando-a com travesseiros. Declarado assassino, Otelo é destituído do posto de general e é sentenciado à prisão. Seguindo o modelo do herói estóico do teatro elizabethano, Otelo profere o seguinte monólogo, antes de suicidar-se com um punhal, diante dos representantes do governo veneziano:

Uma palavra ou duas, por favor.
Fiz serviços ao Estado; eles o sabem –
Não importa. O que peço é que nas cartas
Em que contarem estes tristes fatos,
Falem de mim qual sou. Não dêem desculpas,
E nem usem malícia. Falem só
De alguém que, não sabendo amar, amou
Demais. De alguém que nunca teve fáceis
Os ciúmes; porém que – provocado –
Inquietou-se ao estremo; cujos dedos,
Como os do vil hindu, jogaram fora
Uma pérola rara, mais preciosa
Que toda a sua tribo; alguém que alheio
Ao hábito das lágrimas, verteu-as
Em abundância, como verte a goma
A seiva de uma árvore da Arábia.
E digam que em Alepo, certo dia,
Quando um maligno turco de turbante
Agrediu um varão veneziano
E insultou rudemente a sua terra,
Peguei a goela ao cão circuncidado
E o golpeei assim!
(HELIODORA, 2006. p.692)


O boato é habitualmente criado pelo inimigo ou adversário que, descobrindo uma descontinuidade, ou uma zona de distorção, imediatamente se dispõe a utilizá-la e a fazer disso uma arma de arremesso. É por isso uma arma dos fracos. E dos covardes. Os autores do boato nunca se revelam. Alimentam-se no - e do - anonimato. E dá-se muitas vezes o caso de o autor do boato remeter para uma fonte a montante. Por isso, na maior parte dos casos, não há propriamente um autor, há antes uma confraria que vai acrescentando um ponto ao conto.

Na mesma família do boato existe um processo de distorção da realidade, com o objetivo de prejudicar terceiros, que é a intriga. A intriga é um sistema, é um caldo de cultura, em que se fabricam os boatos. O boato é o produto do campo da intriga. E a intriga tem os seus cultivadores, semeadores. Pessoal altamente especializado que reorganizou a inveja e a incapacidade de 'fazer' neste sistema de detração universal. Os intriguistas são seres ultrapassados pelo comboio da vida a quem não resta senão atirar pedras, tanto mais tontas e inconsequentes, quanto maior for a velocidade a que ele se desloca. A calúnia é já um processo de mentira objetiva e dolosa. O caluniador sabe que está a mentir e que a sua mentira prejudicará o visado, mas usa-a deliberadamente para produzir o efeito pretendido. A calúnia tem um emissor identificado. Ela não é uma estratégia anônima como o boato, e é, por isso, menos covarde na metodologia, mas igualmente dolosa no processo e na má-fé.

O problema da boato, da calúnia e da intriga é que se constituem como uma economia paralela à economia da verdade. Diminuem o PIB e aumentam o déficit. São forças de bloqueio à produção de riqueza e ao aumento da coesão social. A intriga é uma arma dos pobres de espírito que, sendo incapazes de produzir e de se afirmar por aquilo que são, tentam sobreviver à custa de afirmar aquilo que os outros não são.

Há milhares de Iagos espalhados por aí. Homens e mulheres escondidos atrás de máscaras ridículas de vítimas iverossímeis que demoram a cair. Estragam as relações das pessoas porque elas mesmas não sabem se relacionar com os outros. Mentem, manipulam, traem, gerenciam intrigas e calúnias das mais variadas formas, plantam rumores e fofocas e invejam o que não possuem e quando não possuem ou se lhes escapa das mãos, não medem esforços na maldade para reconquistar o 'prêmio'. E enganam a todos, sem remorso, nunca tomando a culpa para si, são sempre vítimas das intrigas e calúnias que elas mesmos criaram. Não há limites para a maldade. Ai de quem se põe diante de seu caminho!

Não consigo enxergar uma vantagem sequer em conseguir aquilo que se quer passando por cima de todos os valores, esmagando as pessoas, denegrindo-as e criando estórias inexistentes só para ver o circo pegar fogo. Achando que, assim, tira-as do caminho. Lobos em pele de cordeiro. Infelizmente quando você descobre, já é tarde...

Com sorte, um dia a máscara cai. Um dia... Assisto de camarote, pois!

Já estava a ir-me quando me lembrei de um trechinho de Paulo Coelho - e nisso ele estava certo - que diz que:

O demônio é sábio: podendo evitar trabalho, ele evita.
Sempre que pode, ele lança mão de sua armadilha mais fácil e mais efetiva: a intriga.
Quando a usa, o demônio faz pouco esforço - porque é o próprio homem quem trabalha para ele.
Com palavras mal dirigidas, são destruídos meses de dedicação, anos em busca de harmonia.
Frequentemente somos vítimas desta armadilha.
Não sabemos de onde vem o golpe covarde, e não temos como provar que a intriga é falsa.
A intriga não permite o direito de defesa: condena sem julgamento.
Assim como às vezes somos as vítimas, outras vezes somos tentados a exercer o papel do carrasco.
Por isso, cuidado com as palavras; elas têm poder, e o demônio sabe disso.

Caí de paraquedas, infelizmente, mas não há de ser nada. Eu sobrevivo. Tenho bons ombros pra carregar o peso do fardo. Há de ser só mais um teste do 'Cara lá de cima' pra ver se eu aguento o tranco. Que ano de provações. O que passou e o que entrou. Alguma dúvida? Eu supero. Ah, se supero. Ego sum qui sum. Infeliz de quem plantou a intriga e fez-se de vítima. Jamais e grifo bem JAMAIS falo daquilo que não sei porque não quero que façam comigo o que não gostaria que fizessem. E busco os porquês e as provas para mim porque só a mim interessa. Não faço uso de mentiras. Sou jornalista e busco fontes mais do que confiáveis. Sempre. Em tudo o que faço na vida. Não confio no diz-que-me-disse.

Tenho que confessar que, neste caso específico, cada vez que busco a verdade, mais ela me assusta... E não, não faço intrigas porque cresci vendo em que poço de maldade é capaz de afundar o ser. E isso não quero pra mim JAMAIS!!! Sou transparente. Sou o que sou. Não preciso de estorinhas ou mirabolices para tornar-me mais interessante. Sou bem resolvida quanto a isso. Mais uma vez: ego sum qui sum. Sou o que sou. Sou porque busco ser. E não preciso atropelar ninguém para isto. Acredite você ou não. Mas isso, o tempo há de mostrar. Falem o quanto quiserem. Se incomodo, não sei. Esse ódio todo, felizmente, não me atinge. Como diria Shakespeare, é o veneno que você toma querendo que eu morra.

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