domingo, 1 de março de 2009

E que vá tudo pro inferno: o jogo do contra

Hoje acordei com uma vontade de mandar tudo pra puta que o pariu. Só uma vezinha queria jogar a culpa toda nos outros e parar com essa mania de me auto-punir pela extinção da humanidade em prol de uma causa maior. Juro que me deu vontade de sair distribuindo todas as culpas que adquiri ao longo dos anos... aquelas mesmas, que nem minhas são, mas que assumi mesmo assim pra encerrar as pendengas dos outros.

E isso me fez lembrar do jogo do contra, um textinho básico que escrevi há uns dezesseis anos atrás e que dizia mais ou menos assim:

Só uma vez, queria ser inconsequente e fazer aquilo que me desse na telha.
Queria ficar um diazinho inteiro fofocando dos outros e apontando todos os defeitos das pessoas que, por má sorte, cruzassem o meu caminho.
Queria culpar fulano pela crise mundial e Joana da Silva por todos os males do mundo. Só por um dia, queria ser egoísta o suficiente pra me achar o máximo e execrar todo mundo de uma só vez.
Queria ser a 'bola da vez' e me sentir 'a tal'. Queria mentir. Mas mentir muito mesmo. Ser tremendamente falsa. Daqueles que dá até nojo.
Queria inventar mil estórias que me trouxessem muito lucro e fizessem todos sentirem peninha do mundo ser tão cruel comigo. Nossa! Pobre coitada, nada dá certo mesmo... Já pensou? E assim todo mundo iri passar a mãozinha na minha cabeça e dizer: calma, tudo vai melhorar, eu estou aqui e não vou sair.
Queria criar milhares de intrigas, fazer muita fofoca e não me importar com o resultado final disso tudo. Encher a boca de boatos e correr mundo afora. E falar que é um absurdo tudo isso, que eu não tive nada a ver com isso.
Queria riscar o fósforo naquele monte de palha molhada e tanta gasolina e ver o circo pegar fogo sem ligar se a merda do fogo vai dizimar aquela floresta lindinha que tem logo adiante.
Queria usar e abusar de todo mundo que eu conheço, só pelo prazer de fazê-los dançar conforme a minha música.
Queria passar por cima de tudo e de todos como um trator enorme, pra chegar lá onde eu quero. Os outros que se danem. O que me importaria era só o resultado final.
E acharia isso tudo ótimo, afinal é só mais um degrau rumo à ascensão!!!
Queria passar horas mancumunando qual seria o próximo passo à derrocada do outro e faria disso a minha missão. Escolheria fulano pra ser o meu gestor financeiro porque casório é profissão, né? Meus filhos? Eles que se arranjassem sozinhos. Já estão bem grandinhos pra isso. Queria saber só de sombra e água fresca. Dividir o meu espaço? Jamais. Os outros que se danem. Aqui é cada um por si.
Queria ser homem pra comer todas as mulheres gostosas, mas sendo mulher, dá na mesma, escolho os melhores pra dividir a cama. E é assim que vou galgando o meu espaço no futuro.
Queria ser política, daquelas bem corruptas, pra encher o bolso de dinheiro e ver o povo se engalfinhando por um prato de comida decente e uma muda de roupa limpa.
Queria ostentar muita riqueza e encerar o meu ego, pra diminuir aqueles que não tem absolutamente nada. Queria comprar milhares de coisas e dizer na maior cara dura quando me perguntassem se era novo: imagina, tenho faz uns dez anos e você nunca percebeu. Queria ser bem invejosa, porque é bem essa inveja que vai me fazer derrotar aquela pessoa que eu faço questão de ser igual, mas só há espaço pra uma no mundo, então, que seja eu. Queria ser tudo o que ela é, escrever como ela escreve, ter o mesmo tipo físico, o mesmo corte de cabelo, a cor dos olhos, a inteligência e a forma como fala, os trejeitos e tudo mais que a caracteriza, mas vou afundá-la na lama porque eu posso.
Queria enganar a todos, fingir que sou mais, fingir que amo e ninguém há de descobrir, porque eu sou uma atriz perfeita e se alguém se dignar a me desafiar, acabo com a raça, invento mentiras e esse alguém vai se danar.
Queria passar o resto dos meus dias me preocupando com aquilo que os outros são e não com o que sou, fingindo ser quem não sou até que a porcaria do elástico da minha máscara não aguente mais e caia chão abaixo expondo-me ao ridículo. Mas aí, já será tarde demais pra todos aqueles que cruzaram o meu caminho. A teia já terá sido tecida e não haverá mais como libertar-se disso.
Queria sempre querer mais, cada vez mais, até não aguentar mais. E então, de repente me veria no topo da montanha mais alta, mas me veria só. Não há graça nenhuma em vencer a qualquer custo e descobrir que não há platéia pra aplaudir o meu feito. Estaria só. E o tempo de redenção já me teria esvaído pelos dedos. Criança, não há vitória se estão todos mortos. Só há uma única sobrevivente. Carrasco de si própria.
Pobreza de espírito não leva a lugar nenhum. E não adianta ir à missa e comungar toda semana. Chega a ser sacrilégio!

Posso até me estrepar inteira, mas não carrego ninguém junto comigo. E não devolvo na mesma moeda... Isso tudo é aquilo que não quero ser jamais!

1 comentários:

Nina Jessica disse...

Sei como é: Jogue tudo pra cima e pense mais em vc, carregar o mundo nas costa causa paralesia na coluna e na alma.Deixa tudo, pelo menos uma vez e seja feliz...