quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ensaio 124

Era um barulho ensurdecedor aquele, que ouvia todas as noites... Um 'tum tum' incessante, irritante, que chegava a ser torturante, quando tudo o que ela mais queria era esquecer. E quanto mais queria isso, mais lembrava. E assim se seguiam os dias, nesse sistema ininterrupto de engodos e disfarces, de esperanças mortas (?) e presentes vazios. Mas era à noite, na ausência de tudo e de todos, que aquele som irritantemente cheio de arritmias lhe perturbava a mente. E não havia nada que pudesse fazer a não ser engolir seco e fingir que não estava lá. Os olhos à espreita de qualquer vibração daquele telefone deitado sobre a mesa, o toque da campainha, uma carta, um sinalzinho só. Mas nada. Não havia nada. E ainda assim o coração insistia a sair-lhe boca a fora. Tolice. Quisera estar a observar tudo de cima, de fora, distante. Mas não ali.

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