quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ensaio 107

Você, ah, você... Nunca está lá quando eu mais preciso. Nunca esteve mesmo, não seria desta vez. Caraca! Eu aqui, feito barata tonta, olhando para todos os lados e tentando achar aquela nova/velha cara conhecida e só vejo um amontoado de gente se abraçando e chorando, rindo, indiferente e mais um bando de robôs que ficam sem ação quando recebem os outros. Mas eu estava partindo.

Fiz o meu check-in meio assim, sem gosto, sem sal. Um mundo de promessas largado para trás em prol de outro mundo – literalmente (e assustadoramente sem você)– de promessas que, numa dessas tome conta de vez de preencher o maldito vazio que você me deixou. E eu nem sei o porquê disso tudo. Hilário, não.

Sentei no café, abri o notebook e não vi nada lá. Nenhuma mensagem, imaginei que, com tamanha covardia você até podia se dar ao luxo de me escrever qualquer coisa, tentar ao menos me convencer de que eu estou completamente errada e que você não é esse bicho de sete cabeças que eu estou começando a, criativamente, desenhar no meu mapa mental.
E eu penso, estou indo para longe, bem longe, para quê? Esquecer um mundo de palavras infundadas que não consigo tirar da cabeça? De repente isso tudo começa a me parecer uma idéia idiota. Como é que se foge de algo que não se consegue enxergar? Sei lá. E penso olhando firmemente para a xícara de café preto e forte na mesa: putz, será que um dia isso acaba? Hoje eu gostaria demais que alguém sentasse diante de mim, repousasse a mão no meu ombro e me falasse ‘filha, acalme-se, que dia tal do ano tal a tua provação termina’. Mas isso é mera utopia... e eu tenho um avião para tomar.

Corro para o saguão lotado de gente. Gente que não conheço. E por ora isso me tranqüiliza. Não quero falar com ninguém, quero apenas me concentrar em não me esvair no choro, em controlar o emaranhado de lembranças que acumulei nesse tempo e sei lá eu mais o quê. Fico imaginando o que se dá na vida daquelas pessoas que compartilham o mesmo espaço que eu, que tipo de vida levam, quais são os seus problemas, suas preocupações, seus anseios, vejo um casal recém-casado – as alianças brilhantes e enormes, não tem como deixar de notar - com cara de que está indo para a lua de mel, e isso me faz abrir um sorrisinho. E me dou conta de que é o primeiro em dias! Isso não é bom. Nada bom.

Embarco, enfim, e fico ali, olhando pela janelinha. E a única coisa que consigo pensar é que, mais uma vez, você me deixou ali, a esperar. E não veio. Nunca vem. Já devia mesmo ter me acostumado com isso. Não sei porquê insisto (devia começar a usar o pretérito imperfeito, mas ainda me custa)... Agora me diz você: por quê? Por que eu não consigo me livrar logo disso tudo?

Vontade de dormir e acordar outra. Outro nome, outra história, podia até ser mais ou menos, mais normalzinha. Não ligava, mas nela não teria lugar para você. Queria acordar mais egoísta. Já me bastava.

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